Motoclubes de Internet
Com a ascenção das tecnologias de redes sociais tudo ficou mais acessível, as distâncias encurtadas e por consequência, as informações são disseminadas quase que instantaneamente. Porém, com isso, também vem grandes malefícios, como por exemplo, a boa e velha fofoca, agora, digitalizada, rápida e rasteira. Também vem a chance de se concretizar interesses dos mais diversos. Desde ativismo político capaz de derrubar governos e cancelar políticos e pessoas influentes até o marketing agressivo, vendendo exatamente o que você quer, conforme seus interesses, bem delineados de acordo com seu padrão de consumo.
Agora, transporte isso para o que realmente interessa: o Motociclismo e suas ramificações. Inclusive, com o surgimento de uma nova palavra: o MOTOCLUBISMO. Não vou me ater ao significado desse neologismo, até porque suas nuances já são mais do que conhecidas em nosso meio: A ostentação de suas cores. O estandarte do que você realmente acredita e defende, feito em couro e cravado em suas costas, trazendo à tona uma antiga tradição, em que no início de tudo, homens de verdade, com sangue e cicatrizes impregnadas no corpo e na alma, dos horrores vividos no fim da Segunda Grande Guerra subverteram todo um sistema de leis convencionais em suas próprias leis. As mesmas leis vistas em campo de batalha, lavando a honra do seu irmão morto covardemente ou defendendo indubitavelmente as bandeiras de suas terras natais, preservando a liberdade que muitos não tinham consciência que possuiam.
Esses homens chegaram de volta à sua terra e não pertenciam mais a ela. Sentiram-se como nômades em terras estranhas, fora do eixo cultural e cheio de sorrisos que observavam na escuridão de suas mentes. Esses homens se uniram e preservaram essa subcultura até às últimas consequências. Preservaram a ferro e fogo, sangue e lágrimas tudo o que era importante pra eles: IRMANDADE e HONRA.
Não eram gangues ou gangsters ou facções ou criminosos. Não. Eram homens que viviam conforme o que acreditavam. Em valores que vão muito além do que civis de barriga cheia e um carro na garagem acham que possuem. Valores esculpidos dolorosamente na alma e no corpo, que não se apagam ao primeiro sinal de provação.
E é aqui que chegamos no ponto crucial dessa crônica: Que valores você representa na ostentação de suas cores? Você decidiu seguir essa subcultura por qual motivo? Dinheiro? Fama? Ou alguma forma de se auto afirmar diante sua covardia vista todos os dias no espelho?
E é aí que vemos, pasmos, Motoclubes de Internet, fazendo suas lives, mostrando online toda a sua testosterona enrustida na vida medíocre que levam diariamente, falando fino e reticentes em seus verdadeiros sonhos... Na verdade, não são nem um pouco de VERDADE. Não carregam na alma e no corpo o ônus de defender uma ideologia, defender suas cores, seus irmãos e sua honra. Não. Preferem divulgar na máquina fácil e tecnológica o que pretendem ser, mas que falsamente não cultuam em suas vidas reais miseráveis.
E isso tem um efeito grave. Muitos neófitos que poderiam dar vida e cores às antigas tradições, perdurando lendas e vivências na ESTRADA, acabam por achar que a ficção pode ser real. Daí, se dão conta da merda que se meteram. Acabam machucados, mortos, presos ou simplesmente ridicularizados e desacreditados, determinando a falência de uma subcultura que deveria ser quase que intocável e guardada a sete chaves para apenas quem realmente merece e pode sustentar de verdade.
Assim, como vem acontecendo nessas duas últimas décadas, a raridade se torna comum e os boatos e lendas apenas ouvidas nas mesas de bares ou nos longínquos redutos onde apenas a Velha Escola andava, agora são escancarados e o que deveria ficar em Vegas, agora, ganha o mundo.
Por fim, resta fazer APENAS uma coisa: Voltar com as antigas tradições. Refazer-se das cinzas. Eliminar os "ratos" que infestam nosso meio, expurgar quem vende e se vende por um pouco de poder ou apenas pra se travestir de durão. Não. Nossa intolerância deve ser compatível com nossa indignação de ver que uma piada está sendo contada por cima de homens que deram suas vidas pelo que acreditavam, e que hoje viraram apenas cenas de filme e seriado, com fãs comendo pipoca vendo os comentários. Não. Isso está errado. Toda a força e toda a honra devem ser direcionadas para o que é certo e ainda que nunca exista pureza de valores, ainda haja, pelo menos, a sustentação da ideologia, pois sem isso, corre-se o risco de se perder o essencial: Os valores por que lutamos.
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